Japeri, uma cidade antirracista

A Assistência Social fecha o mês da Consciência Negra com a união de povos em nome da construção de políticas públicas de combate ao racismo na cidade

Respeito, solidariedade, empatia e igualdade, palavras que ao lado da frase, “A diferença nos enriquece e o respeito nos engrandece”, deram o tom nesta quinta-feira, (30), ao evento de encerramento das atividades em comemoração do Dia da Consciência Negra promovido pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Trabalho (Semast) em sua sede, em Engenheiro Pedreira.

A secretária de Assistência Social e Trabalho, Ana Paula Alves, destacou o momento de construção de uma politica antirracista na cidade de Japeri, onde 70% da população se autodeclara negra. “Estamos reforçando todo o trabalho da Semast, mas convidamos a sociedade civil e as organizações sociais e religiosas para essa ação conjunta. Daqui há algum tempo, vamos lembrar desse primeiro passo para a criação das políticas públicas antirracistas da cidade de Japeri”, disse a gestora.

A secretária de Assistência Social e Trabalho, Ana Paula Alves e a assistente social, Natássia Ferreira, coordenadora da Proteção Especial e mediadora do evento

O vice-prefeito, Carlos Januário, recebeu das mãos de Ana Paula, o Projeto do Conselho de Igualdade Racial da cidade, fruto do trabalho dos profissionais da assistência e da sociedade civil. “Lutamos e governamos com humanização. E hoje confirmamos que temos condição de construir uma política de igualdade cada vez mais inclusiva e com a participação das representações sociais da cidade. Levo com muita honra esse projeto para entregar nas mãos da prefeita, Dra Fernanda Ontiveros”, disse Januário.

O político e sindicalista, Carlos Santana, destacou pontos importantes da história da discriminação racial no Brasil

Convidado para palestrar, o político e sindicalista brasileiro, Carlos Santana, destacou as suas referências japerienses, criadas aos 17 anos com metalúrgicos ferroviários da cidade no tempo em que participou do Sindicato dos Ferroviários do Rio de Janeiro. Ele, que foi deputado federal pelo estado entre 1991 e 2011, falou da necessidade de reparação histórica para a população negra e destacou ainda as mudanças necessárias no código penal.

“Não há como discutir discriminação racial sem falar em reparação histórica, sem mudança constitucional e penal. Temos a terceira maior carceragem do mundo e a 10ª economia mundial, mas, uma distribuição de renda que penaliza a grande população. Temos que trabalhar por reparação e não por igualdade, econômica, política e religiosa”, destacou Santana, que foi o presidente da primeira Comissão de Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro.

O evento foi organizado pela Coordenação de Proteção Especial e pelo Centro de Referência de Atendimento à Mulher e reuniu outras datas importantes para as políticas públicas de assistência social na cidade. “Hoje é a culminância das ações que realizamos no mês de novembro pela Consciência Negra, mas em conjunto com o nosso Centro de Referência de Atendimento à Mulher, os equipamentos de assistência da cidade, também estão imbuídos nas ações dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, que termina no dia 10 de dezembro com o Dia Internacional dos Direitos Humanos”, disse Natássia Ferreira, assistente social e mediadora do evento.

Já a assistente social, Andrea Barreto, apresentou um pouco da história do ativismo feminino, a necessidade de empoderamento dessa população, de apoio na construção das independências e levou todos os presentes a cantarem numa só voz, a Maria, Maria de Milton Nascimento. “Um ajudando o outro, temos que construir juntos, afinal, ‘Maria, Maria é um dom, uma certa magia, Uma força que nos alerta, Uma mulher que merece viver e amar, Como outra qualquer do planeta, e possuímos a estranha mania de ter fé na vida”, recitou.

A assistente social do Cram, Andrea Barreto, apresentou um pouco da história do ativismo feminino e a necessidade de empoderamento dessa população

Exposição, participação de autoridades e a apresentação do Projeto do Conselho de Igualdade Racial

O auditório da Semast se transformou numa grande exposição antirracista e de empoderamento feminino, através do destaque de mulheres protagonistas de histórias de sucesso em formação, concursos, ativismo, música e política. Na estante, o livro “O Advogado dos Escravos’ de Nelson Câmara, conta a história de Luiz Gama, ex-escravo baiano que se tornou um grande magistrado na defesa gratuita de escravos. Já o livro “Interseccionalidade – Feminismos plurais”, de Carla Akotirene, apresenta questões referentes aos mais diversos feminismos.

As exposições contaram ainda com a participação do Centro Municipal de Longevidade, da Subsecretaria de Assistência Social de Mesquita que apresentou a confecção de uma boneca artesanal de pedaços de tecido, usadas por mulheres negras escravizadas para distrair as crianças e que hoje são confeccionadas e distribuídas para emanar boas vibrações a quem as recebe. O Fórum de Economia Solidária e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) também levaram produtos artesanais. O artista Walle-B  foi a atração musical do evento.

O Centro Espírita Casa Encontro das Águas de Engenheiro Pedreira, com os representantes Pai Claudio de Iemanjá e as Ekedys Micaela Ramos e Sandra Garcia prepararam e serviram  uma das mais tradicionais especiarias populares do Brasil, o acarajé.

Estiveram presentes ao evento, os vereadores Professor Josimar, Renan Schiavo e Matheus Ferraz. O Defensor Público, Rodrigo Baptista Pacheco, do 5º Núcleo Regional de Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Os secretários municipais de Comunicação, Rogério Sant’anna; de Assuntos Institucionais, Renilton Brandão; de Esporte, Turismo e Lazer, Valéria Carla; de Cultura, Jorge Braga Junior e de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Meire Lucy Fonseca.

21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher

Mundialmente denominada “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, a campanha começou em 1991. As classes femininas de diversos países foram reunidas e iniciaram uma campanha com objetivo de denunciar e debater as inúmeras formas de violência contra as mulheres no cenário mundial.

A campanha, que começou no dia 25 de novembro, homenageia as irmãs conhecidas como ‘Las Mariposas’, assassinadas por seu ativismo contra o governo ditador da República Dominicana de 1960.

No Brasil, a campanha se uniu ao Dia da Consciência Negra e se tornou os ‘21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher’. O encerramento ocorre no dia 10 de dezembro, data da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.



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