O evento, realizado na Câmara Municipal, debateu os impactos do racismo na vida dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)
De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Japeri lidera o ranking nacional em autodeclaração de pessoas negras ou pardas, com 76,6% da população pertencente a esses grupos. O município supera outras cidades da Baixada Fluminense, como Belford Roxo (72,7%) e Queimados (72%).
Nesse contexto, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) organizou na quarta-feira, (11), o 2º Seminário de Política Nacional da Saúde da População Negra, realizado na Câmara Municipal. O evento abordou questões de saúde pública voltadas para a promoção da equidade no atendimento à população negra, alinhando-se às diretrizes da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN).
O encontro, que segue as estratégias do Ministério da Saúde para combater desigualdades no SUS, destacou que as iniquidades em saúde são reflexo de processos socioeconômicos e culturais injustos.
O evento contou com a presença de diversos representantes da saúde na cidade de Japeri, incluindo, as subsecretárias de Atenção Básica, Helen Santos e de Atenção Especializada em Saúde, Tatiana Soares; da psicóloga Ana Paula Bitar do programa Viva Japeri, o técnico Marcos Antônio Germano e da enfermeira Deusa Ferreira, que atua na Educação Permanente da Semus e apresentou a parte histórica sobre a racialização e racismo.
Segundo Deusa, que organizou o seminário, é preciso compreender os impactos do racismo na saúde. “O racismo faz mal à saúde, mas com a produção de conhecimento e os debates será possível avançar e ter uma atenção humanizada e pautada na equidade. Hoje, Japeri dá mais um enorme passo nessa direção”, destacou.
O vereador Rogerinho da RR e o recém eleito Matheus Ferraz, participaram do evento e destacaram a importância da participação da Câmara Municipal na luta anti racista.
Contribuições e Reflexões
O seminário promoveu debates envolvendo profissionais que atuam no combate ao racismo com foco na saúde, além de trazer recortes de gênero e raça na abordagem das condições de saúde da população negra.
A Dra. Roberta Georgia, coordenadora do curso de enfermagem e líder do projeto de extensão “Quilombo do Cuidar”, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), enfatizou o papel do fortalecimento e empoderamento da população negra. “É ocupando espaços, exigindo direitos, dialogando e promovendo debates que construiremos uma nova sociedade, com ampliação do acesso à saúde, redução das desigualdades e criação de políticas públicas inclusivas.”
Além disso, Raquel da Silva, enfermeira vinculada à Secretaria Estadual de Saúde e à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), apresentou um panorama sobre os casos de tuberculose em Japeri, destacando a vulnerabilidade da população negra diante dessa doença. E a psicóloga do Programa Viva Japeri, Ana Paula Bitar, abordou o perfil das vítimas de violência notificadas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que são majoritariamente mulheres negras, e reforçou a necessidade de ações afirmativas.
“Nosso papel é abrir o debate e apontar rotas que possam minimizar a dívida histórica gerada por anos sem políticas públicas efetivas, reduzindo a vulnerabilidade dessa parcela da população.”
O grupo de Educação em Saúde da cidade de Queimados realizou a encenação teatral da violência que sofre a população negra.
Homenagens
Durante o evento, dois profissionais foram homenageados pelo comprometimento com a saúde da população, a técnica de enfermagem Vilma Cesário, e o médico Dr. João Francisco, que atuam nos Centros Municipais de Especialidades. Ambos foram reconhecidos pelo trabalho de excelência prestado à população de Japeri.
Fotos: Samuel Sant’anna
